sábado, 26 de setembro de 2009

A Piedade em Calvino



Extraído do livro Vencendo o Mundo do Dr. Joel Beeke. p.p.43-46. Postado por Madson Marinho

As Institutas, escritas por João Calvino, fizeram-no receber o título de “o sistematizador preeminente da Reforma Protestante”. Com freqüência a reputação de Calvino como um intelectual é vista separadamente do contexto pastoral e espiritual em que ele escreveu sua teologia. Para Calvino, o entendimento teológico e a verdade, a piedade e a utilidade prática são inseparáveis. Antes de tudo, a teologia lida com o conhecimento – conhecimento de Deus e de nós mesmos; mas não há conhecimento verdadeiro, onde não há piedade verdadeira.
1. Definição e importância.
O conceito de piedade (pietas) ensinada por Calvino se fundamentava no conhecimento de Deus, incluindo atitudes e ações direcionadas à adoração e ao serviço de Deus. Além disso, a pietas de Calvino incluía uma hoste de temas relacionados, tais como o amor nos relacionamentos humanos e o respeito à imagem de Deus nos seres humanos. Essa piedade é evidente em pessoas que reconhecem, por meio da fé experiencial, que foram aceitas em Cristo e enxertadas no corpo dEle, pela graça de Deus. Nesta “união mística”, o Senhor declara essas pessoas como pertencentes a Ele, tanto na vida como na morte. Elas se tornam povo de Deus e membros de Cristo pelo poder do Espírito Santo. Este relacionamento restaura-lhes o gozo da comunhão com Deus e recria-lhes uma nova vida. Liberta-as da escravidão ao mundanismo carnal.
Pietas é um dos grandes temas da teologia de Calvino, pois sua teologia é sua piedade descrita em profundidade. Ele estava determinado a confinar a teologia aos limites da piedade. No prefácio dirigido ao rei Francisco I, Calvino afirma que o propósito em escrever as Institutas era “transmitir unicamente certos rudimentos pelos quais aqueles que possuem zelo pelo cristianismo podem ser moldados na verdadeira piedade” para Calvino piedade designa a atitude correta de um homem para com Deus. É uma atitude que inclui conhecimento verdadeiro, adoração sincera, fé salvadora, temor filial, submissão e amor reverentes. Saber quem e como Deus é (teologia) envolvem atitudes corretas para com Ele e fazer o que Ele deseja (piedade). em seu primeiro catecismo, Calvino escreveu: “A verdadeira piedade consiste em um sentimento sincero que ama a Deus como Pai e O reverencia como Senhor; apropria-se de Sua Justiça e teme mais o ofendê-Lo do que enfrentar a morte”. Nas Institutas João Calvino é mais sucinto: “chamo de piedade aquela reverência unida ao amor a Deus, o amor que é fruto do conhecimento de seus benefícios”. Esse amor e reverência para com Deus é um acompanhamento indispensável a qualquer conhecimento de Deus e abrange todos os aspectos da vida. Conforme afirmou Calvino: “Toda a vida dos crentes deve ser um tipo de prática da piedade”. O subtítulo da primeira edição das Institutas dizia: “incluindo quase todo o resumo da piedade e qualquer coisa necessária para se conhecer a doutrinada salvação; uma obra muito digna de ser lida por todos os zelosos por piedade”.
Os comentários de Calvino também refletem a importância de pietas. Por exemplo, ele escreveu sobre 1 Timóteo 4:7-8: “você fará algo de grande valor se, com todo o seu zelo e habilidade, se dedicar unicamente a piedade. A piedade é o começo, o meio e o fim do viver cristão. Onde ela é completa, não há falta de nada... A conclusão é que devemos concentrar-nos, exclusivamente na piedade, pois uma vez que a tenhamos atingido, Deus não exige de nós qualquer outra coisa”. Comentando

2 Pedro 1:3, Calvino disse: “Quando Pedro fez menção da vida, acrescentou imediatamente a piedade, como se esta fosse a essência da vida”.
2. Piedade e a Glória de Deus.
O alvo da piedade, bem como de toda vida cristã, é a glória de Deus – a glória que resplandece nos atributos de Deus, na estrutura do mundo, na morte e na ressurreição de Jesus Cristo. No que diz respeito a todos os que são verdadeiramente piedosos, o glorificar a Deus supera a salvação pessoal. Por isso Calvino escreveu ao cardeal Sadoleto: “Não é uma teologia bastante saudável confinar os pensamentos de um homem a ele mesmo e não apresentar-lhe, como motivo fundamental de sua existência o zelo pela gloria de Deus..., Estou convencido: Não existe nenhum homem que possua a piedade verdadeira e não considere como insípida aquela extensa e laboriosa exortação em favor do zelo pela vida celestial, um zelo que o mantém totalmente dedicado a si mesmo e que não o desperta, nem mesmo por uma única expressão, a santificar o nome de Deus”.
O alvo da piedade- que Deus seja glorificado em nós- é aquilo para que fomos criados. Portanto, o nascido de novo anela por vivenciar o propósito de sua criação original. De acordo com Calvino, o homem piedoso confessa: ”somos de Deus; vivamos e morramos para Ele. Somos de Deus; sejamos governados por sua sabedoria e vontade em todos os nossos atos. Somos de Deus; em harmonia com isso, devemos segui-Lo como nosso único objetivo lícito, em todo os aspecto de nossa vida”.
Deus redime, adota, santifica o seu povo, para que sua glória resplandeça neles e os liberte da busca pelo egoísmo ímpio. O profundo interesse do homem piedoso é Deus mesmo e suas coisas-Sua Palavra, Sua autoridade, Seu evangelho, Sua verdade. O homem piedoso tem intenso de conhecer mais a Deus e de ter mais comunhão com Ele como seu único Alvo.
Mas como glorificamos a Deus? Calvino escreveu: “Deus nos prescreveu uma maneira pela qual Ele pode ser glorificado por nós, a saber, a piedade, que consiste na obediência à sua Palavra. Aquele que ultrapassa esses limites não está honrando a Deus; pelo contrário está desonrando-O. A obediência à palavra de Deus significa refugiar-se em Cristo para o perdão de nossos pecados, conhecê-Lo por meio de sua palavra, servi-Lo com um coração cheio de amor, praticar boas obras em gratidão por sua bondade e exercitar auto-renúncia, a ponto de amar nossos inimigos. Esta resposta envolve rendição total a Deus mesmo, à sua Palavra e à sua vontade.
Calvino disse: “Ofereço-Te meu coração, Senhor, imediatamente e sinceramente”. Esse é o desejo de todos os que são verdadeiramente piedosos. Contudo, esse desejo pode ser realizado apenas por meio da comunhão com Cristo e da participação nEle; pois, fora de Cristo, até a pessoa mais religiosa vive para si mesma. E Apenas em Cristo os piedosos podem viver como servos voluntários, soldados leais de seu comandante e filho de seu Pai.





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