quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Liturgia na tradição Reformada



Características
1. Objetividade
No entendimento de Calvino, o culto tem o objetivo principal de glorificar a Deus. Todos os elementos da liturgia — leitura, oração, canto, sacramento, sermão — combinam-se para dar voz a uma grande doxologia oferecida pelo seu povo.
Calvino rejeitou os outros conceitos do culto, correntes em sua época:
a) O da Igreja Medieval, para a qual a liturgia servia como meio de obter graça e perdão. Calvino ensinou que a graça e o perdão já foram alcançados para nós pelo sacrifício de Cristo. A congregação se reúne, não para obter graça , mas para celebrar com gratidão o dom gracioso da salvação, concedido por Deus aos que crêem;
b) O dos Anabatistas, os quais argumentavam que a finalidade do culto é proporcionar ânimo e conforto espiritual ao indivíduo. Calvino contestou esta posição por ser uma inversão do objetivo do culto, centralizando-o nos sentimentos do crente, ao invés de dirigi-los ao criador. O culto reformado não é subjetivo, com ênfase nas emoções religiosas do indivíduo. É a glória de de Deus que buscamos no culto, e esta em primeiro lugar. O nosso próprio benefício espiritual é um dos frutos que resulta da adoração a Deus. A comunidade cristã se reúne para render ao Senhor “a glória devida ao Seu Nome”
2. Ênfase na Palavra do Evangelho
É na Palavra do Evangelho que Deus se revela a seu povo: a) nas leituras das Escrituras Sagradas; b) no sermão; c) na Santa Ceia, em que a mesma Palavra é comunicada por outra maneira.
3. Ênfase no sacramento da Santa Ceia – Calvino insistia em que a santa Ceia devia ser celebrada todos os Domingos – (Institutas, IV, XVII, xliii). João Knox também deu a mesma importância ao Sacramento. A mesa da Ceia era o ponto central no templo (não o púlpito e nem tão pouco um altar), o ministro dirigindo o culto da mesa, subindo para o púlpito apenas para ler as Escrituras e para pregar. Em Genebra , os participantes sentavam-se à volta da mesa para tomar a Ceia do Senhor.
Para Calvino, o ponto culminante da liturgia é o Sacramento.
4. Continuidade com o passado
A liturgia não era uma “reforma” feita na Missa; era o reestabelecimento do culto da Igreja Primitiva, sem as perversões da Idade Média.
O Instrumento com que Calvino contou para efetuar a restauração do culto da Igreja Primitiva foi o Saltério. Nos Estatutos relativos à Organização da Igreja e do Culto em Genebra (1537), Calvino escreveu: “Desejamos que os Salmos sejam cantados na Igreja de acordo com o uso da antiguidade e o testemunho de São Paulo. O canto dos Salmos nos estimula a levantar os nossos corações a Deus”. Juntamente com os Salmos, foram cantados também os credos dos primeiros séculos da Era Cristã, o Decálogo, o Nunc Dimitris e outros hinos do Novo Testamento – todos metrificados. O culto Reformado não era inovação baseada na invenção dos reformadores; tinha profundas raízes no passado nas liturgias do antigo Israel e na Igreja Católica primitiva.
5. Ênfase na participação de todo o povo
Através dos hinos todo o povo de Deus participava na liturgia. Não era um coro de vozes treinadas, que cantava para uma assistência; era a congregação de Jesus Cristo, que cantava para o louvor e a glória de Deus.
6. “Faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Coríntios 14:40)
A liberdade dentro dos princípios do Cristianismo Primitivo evitava por um lado, o formalismo de ritos mortos, e portanto, o relaxamento que se observa em muitas igrejas, onde qualquer “salada” seve para o culto e onde não existe qualquer senso de liturgia.
Calvino insistiu em que houvesse liberdade disciplinada, na liturgia do culto.
7. Liturgia em função da Transformação da Igreja e da Sociedade
É importante notar que para Calvino, dar glória a Deus significava muito mais do que entoar louvores no templo aos Domingos. Para ele, significava permitir que o Espírito Santo transformasse a vida individual e coletiva de tal forma que atingisse todos os seus aspectos religiosos, familiares, sociais, políticos, culturais, para se tornarem um grande salmo de louvor a Deus.

Fonte: apostila de palestra sobre Ano Cristão, Liturgia Reformada e Cores Litúrgicas, autor desconhecido

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